De legibus

(ed. Cicero De Re Publica, De Legibus. C. W. Keyes, Loeb Classical Library, Cambridge-MA, 1928)

Leg. 1.59-62: nam qui se ipse norit, primum aliquid se habere sentiet diuinum ingeniumque in se suum sicut simulacrum aliquod dicatum putabit, tantoque munere deorum semper dignum aliquid et faciet et sentiet, et quom se ipse perspexerit totumque temptarit, intelleget quem ad modum a natura subornatus in uitam uenerit, quantaque instrumenta habeat ad obtinendam adipiscendamque sapientiam, quoniam principio rerum omnium quasi adumbratas intellegentias animo ac mente conceperit, quibus inlustratis sapientia duce bonum uirum et, ob eam ipsam causam, cernat se beatum fore.

Nam quom animus cognitis perceptisque uirtutibus a corporis obsequio indulgentiaque discesserit, uoluptatemque sicut labem aliquam dedecoris oppresserit, omnemque mortis dolorisque timorem effugerit, societateque caritatis cohaeserit cum suis, omnesque natura coniunctos suos duxerit, cultumque deorum et puram religionem susceperit, et exacuerit illam, ut oculorum, sic ingenii aciem ad bona seligenda et reicienda contraria (quae uirtus ex prouidendo est appellata prudentia), quid eo dici aut cogitari poterit beatius?

 

Leg. 1.59-62:Pois aquele que conhece a si mesmo saberá, antes de tudo, que tem algo divino dentro de si, e pensará em si mesmo como um simulacro, e sempre agirá e pensará de modo digno de tantos dons divinos e, quando examinar e testar a si mesmo, entenderá quão bem equipado pela natureza nasceu, com todos os meios para obter e alcançar a sabedoria. Pois desde o início formou em sua mente os conceitos difusos de todo tipo, mas depois de esclarecê-los segundo a sabedoria, percebe que será um homem bom e, por este mesmo motivo, feliz.

Quando o espírito, tendo obtido o conhecimento e a percepção das virtudes, repudiando a dependência e indulgência ao corpo, abandona o prazer como se fosse uma marca da desonra e escapa de todo o medo da  morte ou do sofrimento, forma uma parceria de amor com os seus, considerando seus todos aqueles que a si estão unidos pela natureza; quando adota o culto dos deuses e a pura religião, aperfeiçoando a visão dos olhos e da mente para poder escolher o bom e rejeitar seu oposto, uma virtude chamada prudência porque prevê, como descrever ou imaginar um maior grau de felicidade?               

 

Leg. 2.26:nam a patribus acceptos deos ita placet coli, si huic legi paruerint ipsi patres. Delubra esse in urbibus censeo, nec sequor magos Persarum quibus auctoribus Xerses inflammasse templa Graeciae dicitur, quod parietibus includerent deos, quibus omnia deberent esse patentia ac libera, quorumque hic mundus omnis templum esset et domus. Melius Graii atque nostri, qui ut augerent pietatem in deos, easdem illos urbes quas nos incolere uoluerunt. Adfert enim haec opinio religionem utilem ciuitatibus, si quidem et illud bene dictum est a Pythagora doctissimo uiro, 'tum maxume et pietatem et religionem uersari in animis, cum rebus diuinis operam daremus' et, quod Thales qui sapientissimus in septem fuit, 'homines existimare oportere omnia quae cernerent deorum esse plena', fieri enim omnis castiores, ueluti quom in fanis essent, et maxime religiosos. Est enim quadam opinione species deorum in oculis, non solum in mentibus.

 

 

 

 

Leg. 2.26:Os deuses que nos foram dados por nossos antepassados devem ser cultuados, pois nossos próprios pais observaram essa lei. Considero que deve haver santuários nas cidades, e não sigo os magos persas que aconselharam Xerxes a incendiar os templos da Grécia, alegando que os gregos encerravam os deuses entre paredes, quando ser deviam ser abertos e livres, pois o mundo todo é seu templo e sua casa. Os gregos e nós mesmos fazemos algo melhor, pois é nossa intenção fomentar a piedade para com os deuses, equeremos os deuses habitando nossas cidades conosco. Essa opinião leva produz cultos úteis à cidade, se é verdade o dito de Pitágoras, homem doutíssimo, que a piedade e a religião são mais fortes nos espíritos quando rendemos culto aos deuses, e o dito de Tales, o mais sábio dos Sete, que ‘os homens devem crer que que tudo o que veem está cheio de deuses’, e assim serão mais puros e mais religiosos, como se estivessem nos santuários. Pois é dito que a ideia dos deuses está nos olhos, não só nas mentes.