De divinatione
(ed. De Divinatione. M. Tullius Cicero. C. F. W. Müller. Leipzig. Teubner. 1915)
Div. 1.16: (...) cum Summanus in fastigio Iovis optumi maxumi, qui tum erat fictilis, e caelo ictus esset nec usquam eius simulacri caput inveniretur, haruspices in Tiberim id depulsum esse dixerunt, idque inventum est eo loco, qui est ab haruspicibus demonstratus. |
Div. 1.16: (...) quando Sumano, no pedimento de Júpiter Optimus Maximus, que era então de argila, foi golpeado por um raio caído do céu não se encontrava em nenhum lugar a cabeça desta estátua, os harúspices disseram que tinha sido lançada ao Tibre, e foi encontrada no lugar que eles assinalaram. |
Div. 1.19: (...) nunc ea, Torquato quae quondam et consule Cotta Lydius ediderat Tyrrhenae gentis haruspex, /Omnia fixa tuus glomerans determinat annus./ Nam pater altitonans stellanti nixus Olympo/ Ipse suos quondam tumulos ac templa petivit/ Et Capitolinis iniecit sedibus ignis./ Tum species ex aere vetus venerataque Nattae Concidit, elapsaeque vetusto numine leges,/ Et divom simulacra peremit fulminis ardor./ |
Div. 1.19: (...) Agora, sendo cônsules Torquato e Cotta, o que havia revelado o lídio harúspice da gente tirrena/tudo foi realizado sob seu mandato como previsto/. Pois o próprio pai altitonante, erguendo-se sobre o estrelado Olimpo/, arremeteu contra seus montes e templos e pôs fogo em suas sedes capitolinas./Então, foi derrubada a antiga e venerada estátua de bronze de Natta, e desvaneceram as leis do vetusto numen/e o ardor do raio consumiu as estátuas dos deuses./ |
Div. 1.20: hic silvestris erat Romani nominis altrix,/ Martia, quae parvos Mavortis semine natos/ Uberibus gravidis vitali rore rigabat;/ Quae tum cum pueris flammato fulminis ictu/ Concidit atque avolsa pedum vestigia liquit./ Tum quis non artis scripta ac monumenta volutans/ Voces tristificas chartis promebat Etruscis?/ Omnes civilem generosa a stirpe profectam/ Vitare ingentem cladem pestemque monebant/ Vel legum exitium constanti voce ferebant/ Templa deumque adeo flammis urbemque iubebant/ Eripere et stragem horribilem caedemque vereri;/ Atque haec fixa gravi fato ac fundata teneri,/ Ni prius excelsum ad columen formata decore/ Sancta Iovis species claros spectaret in ortus./ Tum fore ut occultos populus sanctusque senatus/ Cernere conatus posset, si solis ad ortum/ Conversa inde patrum sedes populique videret. |
Div. 1.20: Ali estava a nutriz silvestre do nome de Roma,/Martia, queaos pequenos nascidos da semente de Marte/ regalava com o fio da vida que saía de seus inchados úberes./ Assim como os meninos foi derrubada então, pelo inflamado golpe de um raio,/ deixando impressos, quando arrancados, os vestígios de suas patas./ Quem não depreenderia tristes advertências dos monumentos ao se verificarem os escritosda arte dos etruscos?/ Todos alertavam que se aproximava de uma grande linhagem a devastação/ euma ingente pestilência sobre os cidadãos/de fato, a destruição das leis denunciavam , com voz insistente/ e ordenavam preservar das chamas os templos dos deuses e a cidade,/ assim como precaver-se contra o horrível estrago e da matança/. Tal era o que, uma vez estabelecido e fixado, se oferecia como inquietante destino./ Salvo se elevada com graça ao ponto mais alto/ uma sagrada estátua de Júpiterpudesse ver o claro nascente./Seria então que o povo e o santo senado/ poderiam ver o que estava oculto, se voltado ao sol nascente,/ se dali visse as sedes dos pais e do povo. |
Div. 1.21: Haec tardata diu species multumque morata/ Consule te tandem celsa est in sede locata,/ Atque una fixi ac signati temporis hora/ Iuppiter excelsa clarabat sceptra columna,/ Et clades patriae flamma ferroque parata/ Vocibus Allobrogum patribus populoque patebat (...)
|
Div. 1.21: Largamente esperada e adiada, essa estátua/ se erigiu por fim, sob seu consulado, sobre sua elevada sede,/ e nesse exato momento do tempo prefixado e assinalado/ Júpiter fez reluzir seu cetro sobre a alta coluna/ e o fogo e o ferro da perdição da pátria foram descobertos/ mediante as vozes dos alóbroges aos pais e ao povo (...) |
Div. 1.23: (...) aspersa temere pigmenta in tabula oris liniamenta efficere possunt; num etiam Veneris Coae pulchritudinem effici posse aspersione fortuita putas? Sus rostro si humi a litteram inpresserit, num propterea suspicari poteris Andromacham Ennii ab ea posse describi? Fingebat Carneades in Chiorum lapicidinis saxo diffisso caput extitisse Panisci; credo, aliquam non dissimilem figuram, sed certe non talem, ut eam factam a Scopa diceres. Sic enim se profecto res habet, ut numquam perfecte veritatem casus imitetur. |
Div. 1.23: Pigmentos dispersos de qualquer modo sobre uma mesa podem formar os traços de um rosto; mas você pensa que também a beleza da Vênus de Cós pode ser obtida mediante uma dispersão fortuita? Se uma porca traçacom o focinho no chão a letra A, você supõe que ela seria capaz de escrever a Andrômaca de Ênio? Carnéades pretendia que, ao se produzir uma rachadura em uma pedra emQuios, havia aparecido a cabeça de um pequeno Pan; creio que era uma figura semelhante, mas com certeza não se poderia dizer que fosse feita por Escopas. Porque é certo que a casualidade nunca pode imitar perfeitamente a verdade. |
Div. 2.45: (...) at inventum est caput in Tiberi. Quasi ego artem aliquam istorum esse negem! divinationem nego. (...) Sed urges me meis versibus:Nam pater altitonans stellanti nixus Olympo/ Ipse suos quondam tumulos ac templa petivit/ Et Capitolinis iniecit sedibus ignis. Tum statua Nattae, tum simulacra deorum Romulusque et Remus cum altrice belua vi fulminis icti conciderunt, deque his rebus haruspicum extiterunt responsa verissuma.
|
Div. 2.45: (...) Mas a cabeça foi encontrada no Tibre. Como se eu negasse que eles possuem um tipo de arte! Eu nego a adivinhação! (...) Mas, você me instiga com meus próprios versos: Pois o próprio pai altitonante, erguendo-se sobre o estrelado Olimpo/, arremeteu contra seus montes e templos e pôs fogo em suas sedes capitolinas. Tanto a estátua de Natta, como as estátuas dos deuses, e Rômulo e Remo com sua besta nutriz, caíram abatidos pela força do raio, e sobre essas coisas surgiram respostas veríssimas dos harúspices. |
Div. 2.46: mirabile autem illud, quod eo ipso tempore, quo fieret indicium coniurationis in senatu, signum Iovis biennio post, quam erat locatum, in Capitolio conlocabatur.—Tu igitur animum induces (sic enim mecum agebas) causam istam et contra facta tua et contra scripta defendere?—Frater es; eo vereor. Verum quid tibi hic tandem nocet? resne, quae talis est, an ego, qui verum explicari volo? Itaque nihil contra dico, a te rationem totius haruspicinae peto. (...) |
Div. 2.46: É admirável, além disso, que, no mesmo momento em que se provavaa conjuração no senado, a estátua de Júpiter era colocada no Capitólio, dois anos depois de ter sido encomendada. “Portanto, você vai defender essa causa” (pois era assim que você me replicava), “apesar de seus próprios feitos e escritos?”. Você é meu irmão, e o respeito. Mas, o que então lhe desagrada? A situação, tal qual é, e bem o sei, por querer que se explique a verdade? Desse modo, nada contradigo, mas te peço a razão de toda a haruspicina. (...) |
Div. 2.47:(...) dissimile totum; nam et prognosticorum causas persecuti sunt et Boëthus Stoicus, qui est a te nominatus, et noster etiam Posidonius, et, si causae non reperiantur istarum rerum, res tamen ipsae observari animadvertique potuerunt. Nattae vero statua aut aera legum de caelo tacta quid habent observatum ac vetustum? Pinarii Nattae nobiles; a nobilitate igitur periculum. Hoc tam callide Iuppiter excogitavit! Romulus lactens fulmine ictus; urbi igitur periculum ostenditur, ei quam ille condidit. Quam scite per notas nos certiores facit Iuppiter! At eodem tempore signum Iovis conlocabatur, quo coniuratio indicabatur. Et tu scilicet mavis numine deorum id factum quam casu arbitrari, et redemptor, qui columnam illam de Cotta et de Torquato conduxerat faciendam, non inertia aut inopia tardior fuit, sed a deis inmortalibus ad istam horam reservatus est. |
Div. 2.47: é totalmente distinto; pois tanto o estoico Boécio, a quem nomeou, como também nosso Posidônio investigaram as causas dos prognósticos, e mesmo que não tenham descoberto tais causas, os próprios fenômenos puderam, sem dúvida, ser observados e constatados. A estátua de Natta, contudo, ou os bronzes com as leis, fulminados pelos céus, quem o observou desde a antiguidade? Os Pinários Natta eram nobres, portanto, da nobreza procede o perigo. Quão argutamente Júpiter o cogitou! Rômulo lactante foi fulminado, portanto mostra-se um perigo para a cidade que ele fundou. Quão sabiamente Júpiter nos certifica por seus indícios! Mas, ao mesmo tempo em que se denunciava a conjuração era erigida a estátua de Júpiter. E é claro que você prefere pensar que isso foi causado pelo poder dos deuses do que por causas arbitrárias, e que o construtor, que fora encarregado de executar aquela coluna por Cotta e Torquato, não se atrasou por indolência ou por falta de recursos, mas que os deuses imortais fizeram que ele demorasse até aquela hora. |
Div. 2.48: (...) habes et respersionem pigmentorum et rostrum suis et alia permulta. Idem Carneadem fingere dicis de capite Panisci; quasi non potuerit id evenire casu et non in omni marmore necesse sit inesse vel Praxitelia capita! Illa enim ipsa efficiuntur detractione, neque quicquam illuc adfertur a Praxitele; sed cum multa sunt detracta et ad liniamenta oris perventum est, tum intellegas illud, quod iam expolitum sit, intus fuisse. |
Div. 2.48: (...) porque sobram exemplos como o da dispersão dos pigmentos e do focinho da porca e outros. Você também diz que Carnéades pretendia, em relação à cabeça do pequeno Pan, como se aquilo não pudesse ocorrer por casualidade, e como se não houvesse necessariamente, no interior de qualquer mármore, também cabeças como a de Praxíteles! Pois essa é efetivamente obtida pela eliminação, e nada inclui ali Praxíteles; depois de muito retirar até chegar aos traços da face, percebe-se então que aquilo que acabara-se de polir estava no interior da pedra. |